O risco da exclusão científica – SM
Entrevista concecida ao site da Editora SM de S. Paulo.
Também pode ser lido do endereço abaixo: www.edicoessm.com.br/ver_noticia.aspx?id=8615 Professor de Ensino Médio e universitário, mestre na área de Educação a Distância, Paulo Bedaque é um dos principais autores de livros didáticos na área de Física, Computação e Ciências. Sua última coleção, editada pela Livraria Saraiva, vendeu 8 milhões de livros. Edições SM – Por que o cidadão médio do século XXI deve saber Ciências? Paulo Bedaque - Nossas vidas estão moldadas pelos avanços científicos e tecnológicos, com algumas conseqüências desejáveis e outras indesejáveis. A inclusão no mundo atual exige que se saiba pensar cientificamente, o que implica em adquirir esta habilidade ao longo de todo o nosso aprendizado, que deve durar por toda a vida. Em especial, não se pode aceitar hoje em dia que um indivíduo deixe a escola sem pensar o mundo natural sob a perspectiva da ciência, sem o letramento que o capacite a tomar decisões lógicas e baseadas em verdades científicas. Evidentemente, a escola, como o verdadeiro templo da educação formal, deve saber rezar bem este terço, ou seja, deve tomar para si esta tarefa, ainda que não seja exclusivamente sua, e garantir o desenvolvimento desta habilidade para seus alunos. Edições SM – Quais são os principais problemas verificados no ensino de ciências no Ensino Fundamental e Médio? Essa questão é colocada também em outros países do mundo? Paulo Bedaque - O estudante brasileiro não tem se saído bem, seja em avaliações internas, como o SAEB, seja em exames internacionais, como o PISA. O SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica do MEC) avalia a capacidade de leitura e de matemática e a maioria de nossos alunos está abaixo do mínimo desejado para seguir adiante em seus estudos. O PISA (concebido pela OCDE), nos posiciona entre os últimos colocados dentre os países participantes. Mas eu sou um professor otimista, acho que o ensino de ciências melhorou nos últimos anos. Abandonamos a comunicação unidirecional, estamos deixando de lado conteúdos sem significado para o aluno, valorizando a experimentação, estamos contextualizando nosso curso e abrindo horizontalmente às discussões importantes para as nossas vidas, procurando ganhar ares multidisciplinares. Infelizmente, apenas uma pequena parte dos professores e das escolas absorveu essas e outras conquistas, mas já percebemos movimentações animadoras, como um vento que não pode ser barrado. Esta é também uma questão que interessa aos nossos colegas de outros países, que vivem problemas semelhantes aos nossos. O mundo globalizado está mostrando que somos mais “parentes” do que imaginávamos. Edições SM – Como o distanciamento do homem comum do conhecimento científico se reflete na vida real? Paulo Bedaque - Do mesmo modo que hoje em dia se fala em excluídos digitais, apontando aqueles que não tem acesso às modernas tecnologias de informação e comunicação (TIC), podemos falar também em “excluídos científicos”. Saber pensar cientificamente interessa ao cidadão e não somente ao cientista, tal a invasão da ciência e da tecnologia em nossas vidas. Eu diria que até para votar bem devemos pensar cientificamente. Nossa relação com o mundo natural, no nível de exploração atual, exige que saibamos nos posicionar constantemente sobre as atitudes a serem adotadas. O analfabetismo científico fatalmente carrega o indivíduo para a marginalidade das discussões fundamentais de nosso tempo. Edições SM – Quais são as outras instâncias de formação que podem aproximar a criança e o adolescente do aprendizado da Ciência? A literatura informativa é um caminho para isso? Paulo Bedaque - Talvez a habilidade mais importante que um professor deva conseguir com seus alunos hoje em dia seja “aprender a aprender”. Em uma sociedade da aprendizagem como a que vivemos, o aprendizado não termina quando bate o sinal da aula ou quando recebemos nosso diploma. Ao contrário, aprendemos a vida toda. É preciso aprender a aprender para que ganhemos autonomia, já que a escola não pode mais dar conta de trabalhar as informações geradas pela humanidade. Os adolescentes devem ser constantemente estimulados a ler, pesquisar, experimentar para dar vazão a sua curiosidade natural e inseri-los em definitivo na sociedade da aprendizagem. Edições SM – Como os pais podem trazer a Ciências para dentro de casa ou como podem levar os filhos a um contato gostoso com essa forma de conhecimento? Paulo Bedaque - Sou daqueles educadores que acreditam no tripé aluno-escola-família para o sucesso da educação. Há uma tendência dos pais de “terceirizarem” a educação de seus filhos, entregando à escola toda a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso que obtiverem, o que é no mínimo, uma irresponsabilidade. Os pais têm que fazer a parte deles, sem a qual o sucesso não será completo. Cabe aos pais incentivar e estimular seus filhos ao aprendizado de ciências: visitem museus, observatórios, planetários, aquários públicos, assinem revistas de divulgação científica, garantam a eles o acesso a livros e à Internet. A expressão-chave é “estimular constantemente”. Edições SM – Por fim, como vê a chegada de um produto editorial como a Coleção Mão na Ciência, de Edições SM? Paulo Bedaque - Vejo com grande satisfação. Ela se insere em tudo aquilo que discutimos anteriormente. Como dissemos, é preciso estimular nossos filhos constantemente e nada melhor que uma coleção rica e agradável aos olhos. Certa vez, passeando por Tampa, na Flórida, deparei com uma série de outdoors espalhados pela cidade onde se lia: “O preço que se paga pela educação nunca é tão alto quanto o preço que se paga pela ignorância”. Acho que ainda não absorvemos esta idéia em sua plenitude. Nós todos, pais, professores e pessoas em geral ainda pagamos o alto preço da ignorância. |