A biblioteca de Babel

By this art you may contemplate the variation of the 23 letters

(The Anatomy of Melancholy, part. 2, sect. II, mem. IV.)

O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os andares inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte prateleiras, em cinco longas estantes de cada lado, cobrem todos os lados menos dois; sua altura, que é a dos andares, excede apenas a de um bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito vestíbulo, que desemboca em outra galeria, idêntica à primeira e a todas. À esquerda e à direita do vestíbulo, há dois sanitários minúsculos. Um permite dormir em pé; outro, satisfazer as necessidades físicas. Por aí passa a escada espiral, que se abisma e se eleva ao infinito. No vestíbulo há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que essa duplicação ilusória?), prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito… A luz procede de algumas frutas esféricas que levam o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.

Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, talvez do catálogo de catálogos; agora que meus olhos quase não podem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer, a poucas léguas do hexágono onde nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me joguem pela balaustrada; minha sepultura será o ar insondável; meu corpo cairá demoradamente e se corromperá e dissolverá no vento gerado pela queda, que é infinita. Afirmo que a Biblioteca é interminável. Os idealistas argúem que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto ou, pelo menos, de nossa intuição do espaço, Alegam que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revele uma câmara circular com um grande livro circular de lombada contínua, que siga toda a volta das paredes; mas seu testemunho é suspeito; suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico é Deus.) Basta-me, por ora, repetir o preceito clássico: “A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível”.

A cada um dos muros de cada hexágono correspondem cinco estantes; cada estante encerra trinta e dois livros de formato uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página, de quarenta linhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor preta. Também há letras no dorso de cada livro; essas letras não indicam ou prefiguram o que dirão as páginas. Sei que essa inconexão, certa vez, pareceu misteriosa. Antes de resumir a solução (cuja descoberta, apesar de suas trágicas projeções, é talvez o fato capital da história), quero rememorar alguns axiomas.

O primeiro: A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade cujo corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode duvidar. O homem, o imperfeito bibliotecário, pode ser obra do acaso ou dos demiurgos malévolos; o universo, com seu elegante provimento de prateleiras, de tomos enigmáticos, de infatigáveis escadas para o viajante e de latrinas para o bibliotecário sentado, somente pode ser obra de um deus. Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar esses rudes símbolos trêmulos que minha falível mão garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas.

O segundo: O número de símbolos ortográficos é vinte e cinco(1). Esta comprovação permitiu, depois de trezentos anos, formular uma teoria geral da Biblioteca e resolver satisfatoriamente o problema que nenhuma conjetura decifrara: a natureza disforme e caótica de quase todos os livros. Um, que meu pai viu em um hexágono do circuito quinze noventa e quatro, constava das letras MCV perversamente repetidas da primeira linha até a última. Outro (muito consultado nesta área) é um simples labirinto de letras, mas a página penúltima diz Oh, tempo tuas pirâmides. Já se sabe: para uma linha razoável ou uma correta informação, há léguas de insensatas cacofonias, de confusões verbais e de incoerências. (Sei de uma região montanhosa cujos bibliotecários repudiam o supersticioso e vão costume de procurar sentido nos livros e o equiparam ao de procurá-lo nos sonhos ou nas linhas caóticas da mão… Admitem que os inventores da escrita imitaram os vinte e cinco símbolos naturais, mas sustentam que essa aplicação é casual, e que os livros em si nada significam. Esse ditame, já veremos, não é completamente falaz.)

Durante muito tempo, acreditou-se que esses livros impenetráveis correspondiam a línguas pretéritas ou remotas. É verdade que os homens mais antigos, os primeiros bibliotecários, usavam uma linguagem assaz diferente da que falamos agora; é verdade que algumas milhas à direita a língua é dialetal e que noventa andares mais acima é incompreensível. Tudo isso, repito-o, é verdade, mas quatrocentas e dez páginas de inalteráveis MCV não podem corresponder a nenhum idioma, por dialetal ou rudimentar que seja. Uns insinuaram que cada letra podia influir na subseqüente e que o valor de MCV na terceira linha da página 71 não era o que pode ter a mesma série noutra posição de outra página, mas essa vaga tese não prosperou. Outros pensaram em criptografias; universalmente essa conjetura foi aceita, ainda que não no sentido em que a formularam seus inventores.

Há quinhentos anos, o chefe de um hexágono superior(2) deparou com um livro tão confuso como os outros, porém que possuía quase duas folhas de linhas homogêneas. Mostrou seu achado a um decifrador ambulante, que lhe disse que estavam redigidas em português; outros lhe afirmaram que em iídiche. Antes de um século pôde ser estabelecido o idioma: um dialeto samoiedo-lituano do guarani, com inflexões de árabe clássico. Também decifrou-se o conteúdo: noções de análise combinatória, ilustradas por exemplos de variantes com repetição ilimitada. Esses exemplos permitiram que um bibliotecário de gênio descobrisse a lei fundamental da Biblioteca. Esse pensador observou que todos os livros, por diversos que sejam, constam de elementos iguais: o espaço, o ponto, a vírgula, as vinte e duas letras do alfabeto. Também alegou um fato que todos os viajantes confirmaram: “Não há, na vasta Biblioteca, dois livros idênticos”. Dessas premissas incontrovertíveis deduziu que a Biblioteca é total e que suas prateleiras registram todas as possíveis combinações dos vinte e tantos símbolos ortográficos (número, ainda que vastíssimo, não infinito), ou seja, tudo o que é dado expressar: em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da Biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos, a demonstração da falácia do catálogo verdadeiro, o evangelho gnóstico de Basilides, o comentário desse evangelho, o comentário do comentário desse evangelho, o relato verídico de tua morte, a versão de cada livro em todas as línguas, as interpelações de cada livro em todos os livros; o tratado que Beda pôde escrever (e não escreveu) sobre a mitologia dos saxões, os livros perdidos de Tácito.

Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloqüente solução não existisse: em algum hexágono. O universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança. Naquele tempo falou-se muito das Vindicações: livros de apologia e de profecia, que para sempre vindicavam os atos de cada homem do universo e guardavam arcanos prodigiosos para seu futuro. Milhares de cobiçosos abandonaram o doce hexágono natal e precipitaram-se escadas acima, premidos pelo vão propósito de encontrar sua Vindicação. Esses peregrinos disputavam nos corredores estreitos, proferiam obscuras maldições, estrangulavam-se nas escadas divinas, jogavam os livros enganosos no fundo dos túneis, morriam despenhados pelos homens de regiões remotas. Outros enlouqueceram… As Vindicaçôes existem (vi duas que se referem a pessoas do futuro, a pessoas talvez não imaginárias), mas os que procuravam não recordavam que a possibilidade de que um homem encontre a sua, ou alguma pérfida variante da sua, é computável em zero.

Também se esperou então o esclarecimento dos mistérios básicos da humanidade: a origem da Biblioteca e do tempo. E verossímil que esses graves mistérios possam explicar-se em palavras: se não bastar a linguagem dos filósofos, a multiforme Biblioteca produzirá o idioma inaudito que se requer e os vocabulários e gramáticas desse idioma. Faz já quatro séculos que os homens esgotam os hexágonos… Existem investigadores oficiais, inquisidores. Eu os vi no desempenho de sua função: chegam sempre estafados; falam de uma escada sem degraus que quase os matou; falam de galerias e de escadas com o bibliotecário; às vezes, pegam o livro mais próximo e o folheiam, á procura de palavras infames. Visivelmente, ninguém espera descobrir nada.

À desmedida esperança, sucedeu, como é natural, uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira em algum hexágono encerrava livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis afigurou-se quase intolerável. Uma seita blasfema sugeriu que cessassem as buscas e que todos os homens misturassem letras e símbolos, até construir, mediante um improvável dom do acaso, esses livros canônicos. As autoridades viram-se obrigadas a promulgar ordens severas. A seita desapareceu, mas na minha infância vi homens velhos que demoradamente se ocultavam nas latrinas, com alguns discos de metal num fritilo proibido, e debilmente arremedavam a divina desordem.

Outros, inversamente, acreditaram que o primordial era eliminar as obras inúteis. Invadiam os hexágonos, exibiam credenciais nem sempre falsas, folheavam com fastio um volume e condenavam prateleiras inteiras: a seu furor higiênico, ascético, deve-se a insensata perda de milhões de livros. Seu nome é execrado, mas aqueles que deploram os “tesouros” destruídos por seu frenesi negligenciam dois fatos notórios. Um: a Biblioteca é tão imensa que toda redução de origem humana resulta infinitesimal. Outro: cada exemplar é único, insubstituível, mas (como a Biblioteca é total) há sempre várias centenas de milhares de fac-símiles imperfeitos: de obras que apenas diferem por uma letra ou por uma vírgula, Contra a opinião geral, atrevo-me a supor que as conseqüências das depredações cometidas pelos Purificadores foram exageradas graças ao horror que esses fanáticos provocaram, Urgia-lhes o delírio de conquistar os livros do Hexágono Carmesim: livros de formato menor que os naturais; onipo. tentes, ilustrados e mágicos.

Também sabemos de outra superstição daquele tempo: a do Homem do Livro. Em alguma estante de algum hexágono (raciocinaram os homens) deve existir um livro que seja a cifra e o compêndio perfeito de todos os demais: algum bibliotecário o consultou e é análogo a um deus. Na linguagem desta área persistem ainda vestígios do culto desse funcionário remoto.

Muitos peregrinaram à procura d’Ele. Durante um século trilharam em vão os mais diversos rumos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o hospedava? Alguém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B, que indique o lugar de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim até o infinito… Em aventuras como essas, prodigalizei e consumi meus anos. Não me parece inverossímil que em alguma prateleira do universo haja um livro total;(3) rogo aos deuses ignorados que um homem – um só, ainda que seja há mil anos! – o tenha examinado e lido. Se a honra e a sabedoria e a felicidade não estão para mim, que sejam para outros. Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca se justifique.

Afirmam os ímpios que o disparate é normal na Biblioteca e que o razoável (e mesmo a humilde e pura coerência) é quase milagrosa exceção. Falam (eu o sei) de “a Biblioteca febril, cujos fortuitos volumes correm o incessante risco de transformar-se em outros e que tudo afirmam, negam e confundem como uma divindade que delira”. Essas palavras, que não apenas denunciam a desordem mas que também a exemplificam, provam, evidentemente, seu gosto péssimo e sua desesperada ignorância. De fato, a Biblioteca inclui todas as estruturas verbais, todas as variantes que permitem os vinte e cinco símbolos ortográficos, porém nem um único disparate absoluto. Inútil observar que o melhor volume dos muitos hexágonos que administro intitula-se Trono Penteado, e outro A Cãibra de Gesso e outro Axaxaxas mlö. Essas proposições, à primeira vista incoerentes, sem dúvida são passíveis de uma justificativa criptográfica ou alegórica; essa justificativa é verbal e, ex hypothesí, já figura na Biblioteca. Não posso combinar certos caracteres

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que a divina Biblioteca não tenha previsto e que em alguma de suas línguas secretas não contenham um terrível sentido. Ninguém pode articular uma sílaba que não esteja cheia de ternuras e de temores; que não seja em alguma dessas linguagens o nome poderoso de um deus. Falar é incorrer em tautologias. Esta epístola inútil e palavrosa já existe num dos trinta volumes das cinco prateleiras de um dos incontáveis hexágonos – e também sua refutação. (Um número n de linguagens possíveis usa o mesmo vocabulário; em alguns, o símbolo biblioteca admite a correta definição ubíquo e perdurável sistema de galerias hexagonais, mas biblioteca é pão ou pirâmide ou qualquer outra coisa, e as sete palavras que a definem têm outro valor. Você, que me lê, tem certeza de entender minha linguagem?)

A escrita metódica distrai-me da presente condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou nos fantasmagoriza. Conheço distritos em que os jovens se prostram diante dos livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra. As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações que inevitavelmente degeneram em bandoleirismo, dizimaram a população. Acredito ter mencionado os suicídios, cada ano mais freqüentes. Talvez me enganem a velhice e o temor, mas suspeito que a espécie humana – a única – está por extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.

Acabo de escrever infinita. Não interpelei esse adjetivo por costume retórico; digo que não é ilógico pensar que o mundo é infinito. Aqueles que o julgam limitado postulam que em lugares remotos os corredores e escadas e hexágonos podem inconcebivelmente cessar – o que é absurdo. Aqueles que o imaginam sem limites esquecem que os abrange o número possível de livros. Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.(4)

Mar del Plata, 1941.

Notas

1. O manuscrito original não contém algarismos ou maiúsculas. A pontuação foi limitada à vírgula e ao ponto. Esses dois signos, o espaço e as vinte e duas letras do alfabeto são os vinte e cinco símbolos suficientes que enumera o desconhecido (nota do editor).

2. Antes, em cada três hexágonos havia um homem. O suicídio e as enfermidades pulmonares destruíram essa proporção. Lembrança de indizível melancolia: às vezes, viajei muitas noites por corredores e escadas polidas sem encontrar um único bibliotecário.

3. Repito-o: basta que um livro seja possível para que exista. Somente está excluído o impossível. Por exemplo: nenhum livro é também unia escada, ainda que, sem dúvida, haja livros que discutem e neguem e demonstrem essa possibilidade e outros cuja estrutura corresponde à de uma escada.

4. Letizia Álvarez de Toledo observou que a vasta Biblioteca é inútil; a rigor, bastaria um único volume, de formato comum, impresso em corpo nove ou em corpo dez, composto de um número infinito de folhas infinitamente delgadas. (Cavalieri, em princípios do século XVII, disse que todo corpo sólido é superposição de um número infinito de planos.) O manuseio desse vade mecum sedoso não seria cômodo: cada folha aparente se desdobraria em outras análogas; a inconcebível folha central não teria reverso.

The library of Babel

By this art you may contemplate the variations of the 23 letters…
The Anatomy of Melancholy, part 2, sect. II, mem. IV

The universe (which others call the Library) is composed of an indefinite and perhaps infinite number of hexagonal galleries, with vast air shafts between, surrounded by very low railings. From any of the hexagons one can see, interminably, the upper and lower floors. The distribution of the galleries is invariable. Twenty shelves, five long shelves per side, cover all the sides except two; their height, which is the distance from floor to ceiling, scarcely exceeds that of a normal bookcase. One of the free sides leads to a narrow hallway which opens onto another gallery, identical to the first and to all the rest. To the left and right of the hallway there are two very small closets. In the first, one may sleep standing up; in the other, satisfy one’s fecal necessities. Also through here passes a spiral stairway, which sinks abysmally and soars upwards to remote distances. In the hallway there is a mirror which faithfully duplicates all appearances. Men usually infer from this mirror that the Library is not infinite (if it were, why this illusory duplication?); I prefer to dream that its polished surfaces represent and promise the infinite … Light is provided by some spherical fruit which bear the name of lamps. There are two, transversally placed, in each hexagon. The light they emit is insufficient, incessant.

Like all men of the Library, I have traveled in my youth; I have wandered in search of a book, perhaps the catalogue of catalogues; now that my eyes can hardly decipher what I write, I am preparing to die just a few leagues from the hexagon in which I was born. Once I am dead, there will be no lack of pious hands to throw me over the railing; my grave will be the fathomless air; my body will sink endlessly and decay and dissolve in the wind generated by the fall, which is infinite. I say that the Library is unending. The idealists argue that the hexagonal rooms are a necessary from of absolute space or, at least, of our intuition of space. They reason that a triangular or pentagonal room is inconceivable. (The mystics claim that their ecstasy reveals to them a circular chamber containing a great circular book, whose spine is continuous and which follows the complete circle of the walls; but their testimony is suspect; their words, obscure. This cyclical book is God.) Let it suffice now for me to repeat the classic dictum: The Library is a sphere whose exact center is any one of its hexagons and whose circumference is inaccessible.

There are five shelves for each of the hexagon’s walls; each shelf contains thirty-five books of uniform format; each book is of four hundred and ten pages; each page, of forty lines, each line, of some eighty letters which are black in color. There are also letters on the spine of each book; these letters do not indicate or prefigure what the pages will say. I know that this incoherence at one time seemed mysterious. Before summarizing the solution (whose discovery, in spite of its tragic projections, is perhaps the capital fact in history) I wish to recall a few axioms.

First: The Library exists ab aeterno. This truth, whose immediate corollary is the future eternity of the world, cannot be placed in doubt by any reasonable mind. Man, the imperfect librarian, may be the product of chance or of malevolent demiurgi; the universe, with its elegant endowment of shelves, of enigmatical volumes, of inexhaustible stairways for the traveler and latrines for the seated librarian, can only be the work of a god. To perceive the distance between the divine and the human, it is enough to compare these crude wavering symbols which my fallible hand scrawls on the cover of a book, with the organic letters inside: punctual, delicate, perfectly black, inimitably symmetrical.

Second: The orthographical symbols are twenty-five in number. This finding made it possible, three hundred years ago, to formulate a general theory of the Library and solve satisfactorily the problem which no conjecture had deciphered: the formless and chaotic nature of almost all the books. One which my father saw in a hexagon on circuit fifteen ninety-four was made up of the letters MCV, perversely repeated from the first line to the last. Another (very much consulted in this area) is a mere labyrinth of letters, but the next-to-last page says Oh time thy pyramids. This much is already known: for every sensible line of straightforward statement, there are leagues of senseless cacophonies, verbal jumbles and incoherences. (I know of an uncouth region whose librarians repudiate the vain and superstitious custom of finding a meaning in books and equate it with that of finding a meaning in dreams or in the chaotic lines of one’s palm … They admit that the inventors of this writing imitated the twenty-five natural symbols, but maintain that this application is accidental and that the books signify nothing in themselves. This dictum, we shall see, is not entirely fallacious.)

For a long time it was believed that these impenetrable books corresponded to past or remote languages. It is true that the most ancient men, the first librarians, used a language quite different from the one we now speak; it is true that a few miles to the right the tongue is dialectical and that ninety floors farther up, it is incomprehensible. All this, I repeat, is true, but four hundred and ten pages of inalterable MCV’s cannot correspond to any language, no matter how dialectical or rudimentary it may be. Some insinuated that each letter could influence the following one and that the value of MCV in the third line of page 71 was not the one the same series may have in another position on another page, but this vague thesis did not prevail. Others thought of cryptographs; generally, this conjecture has been accepted, though not in the sense in which it was formulated by its originators.
Five hundred years ago, the chief of an upper hexagon came upon a book as confusing as the others, but which had nearly two pages of homogeneous lines. He showed his find to a wandering decoder who told him the lines were written in Portuguese; others said they were Yiddish. Within a century, the language was established: a Samoyedic Lithuanian dialect of Guarani, with classical Arabian inflections. The content was also deciphered: some notions of combinative analysis, illustrated with examples of variations with unlimited repetition. These examples made it possible for a librarian of genius to discover the fundamental law of the Library. This thinker observed that all the books, no matter how diverse they might be, are made up of the same elements: the space, the period, the comma, the twenty-two letters of the alphabet. He also alleged a fact which travelers have confirmed: In the vast Library there are no two identical books. From these two incontrovertible premises he deduced that the Library is total and that its shelves register all the possible combinations of the twenty-odd orthographical symbols (a number which, though extremely vast, is not infinite): Everything: the minutely detailed history of the future, the archangels’ autobiographies, the faithful catalogues of the Library, thousands and thousands of false catalogues, the demonstration of the fallacy of those catalogues, the demonstration of the fallacy of the true catalogue, the Gnostic gospel of Basilides, the commentary on that gospel, the commentary on the commentary on that gospel, the true story of your death, the translation of every book in all languages, the interpolations of every book in all books.
When it was proclaimed that the Library contained all books, the first impression was one of extravagant happiness. All men felt themselves to be the masters of an intact and secret treasure. There was no personal or world problem whose eloquent solution did not exist in some hexagon. The universe was justified, the universe suddenly usurped the unlimited dimensions of hope. At that time a great deal was said about the Vindications: books of apology and prophecy which vindicated for all time the acts of every man in the universe and retained prodigious arcana for his future. Thousands of the greedy abandoned their sweet native hexagons and rushed up the stairways, urged on by the vain intention of finding their Vindication. These pilgrims disputed in the narrow corridors, proferred dark curses, strangled each other on the divine stairways, flung the deceptive books into the air shafts, met their death cast down in a similar fashion by the inhabitants of remote regions. Others went mad … The Vindications exist (I have seen two which refer to persons of the future, to persons who are perhaps not imaginary) but the searchers did not remember that the possibility of a man’s finding his Vindication, or some treacherous variation thereof, can be computed as zero.
At that time it was also hoped that a clarification of humanity’s basic mysteries — the origin of the Library and of time — might be found. It is verisimilar that these grave mysteries could be explained in words: if the language of philosophers is not sufficient, the multiform Library will have produced the unprecedented language required, with its vocabularies and grammars. For four centuries now men have exhausted the hexagons … There are official searchers, inquisitors. I have seen them in the performance of their function: they always arrive extremely tired from their journeys; they speak of a broken stairway which almost killed them; they talk with the librarian of galleries and stairs; sometimes they pick up the nearest volume and leaf through it, looking for infamous words. Obviously, no one expects to discover anything.

As was natural, this inordinate hope was followed by an excessive depression. The certitude that some shelf in some hexagon held precious books and that these precious books were inaccessible, seemed almost intolerable. A blasphemous sect suggested that the searches should cease and that all men should juggle letters and symbols until they constructed, by an improbable gift of chance, these canonical books. The authorities were obliged to issue severe orders. The sect disappeared, but in my childhood I have seen old men who, for long periods of time, would hide in the latrines with some metal disks in a forbidden dice cup and feebly mimic the divine disorder.

Others, inversely, believed that it was fundamental to eliminate useless works. They invaded the hexagons, showed credentials which were not always false, leafed through a volume with displeasure and condemned whole shelves: their hygienic, ascetic furor caused the senseless perdition of millions of books. Their name is execrated, but those who deplore the “treasures” destroyed by this frenzy neglect two notable facts. One: the Library is so enormous that any reduction of human origin is infinitesimal. The other: every copy is unique, irreplaceable, but (since the Library is total) there are always several hundred thousand imperfect facsimiles: works which differ only in a letter or a comma. Counter to general opinion, I venture to suppose that the consequences of the Purifiers’ depredations have been exaggerated by the horror these fanatics produced. They were urged on by the delirium of trying to reach the books in the Crimson Hexagon: books whose format is smaller than usual, all-powerful, illustrated and magical.

We also know of another superstition of that time: that of the Man of the Book. On some shelf in some hexagon (men reasoned) there must exist a book which is the formula and perfect compendium of all the rest: some librarian has gone through it and he is analogous to a god. In the language of this zone vestiges of this remote functionary’s cult still persist. Many wandered in search of Him. For a century they have exhausted in vain the most varied areas. How could one locate the venerated and secret hexagon which housed Him? Someone proposed a regressive method: To locate book A, consult first book B which indicates A’s position; to locate book B, consult first a book C, and so on to infinity … In adventures such as these, I have squandered and wasted my years. It does not seem unlikely to me that there is a total book on some shelf of the universe; I pray to the unknown gods that a man — just one, even though it were thousands of years ago! — may have examined and read it. If honor and wisdom and happiness are not for me, let them be for others. Let heaven exist, though my place be in hell. Let me be outraged and annihilated, but for one instant, in one being, let Your enormous Library be justified. The impious maintain that nonsense is normal in the Library and that the reasonable (and even humble and pure coherence) is an almost miraculous exception. They speak (I know) of the “feverish Library whose chance volumes are constantly in danger of changing into others and affirm, negate and confuse everything like a delirious divinity.” These words, which not only denounce the disorder but exemplify it as well, notoriously prove their authors’ abominable taste and desperate ignorance. In truth, the Library includes all verbal structures, all variations permitted by the twenty-five orthographical symbols, but not a single example of absolute nonsense. It is useless to observe that the best volume of the many hexagons under my administration is entitled The Combed Thunderclap and another The Plaster Cramp and another Axaxaxas mlö. These phrases, at first glance incoherent, can no doubt be justified in a cryptographical or allegorical manner; such a justification is verbal and, ex hypothesi, already figures in the Library. I cannot combine some characters

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which the divine Library has not foreseen and which in one of its secret tongues do not contain a terrible meaning. No one can articulate a syllable which is not filled with tenderness and fear, which is not, in one of these languages, the powerful name of a god. To speak is to fall into tautology. This wordy and useless epistle already exists in one of the thirty volumes of the five shelves of one of the innumerable hexagons — and its refutation as well. (An n number of possible languages use the same vocabulary; in some of them, the symbol library allows the correct definition aubiquitous and lasting system of hexagonal galleries, but library is bread or pyramid or anything else, and these seven words which define it have another value. You who read me, are You sure of understanding my language?)

The methodical task of writing distracts me from the present state of men. The certitude that everything has been written negates us or turns us into phantoms. I know of districts in which the young men prostrate themselves before books and kiss their pages in a barbarous manner, but they do not know how to decipher a single letter. Epidemics, heretical conflicts, peregrinations which inevitably degenerate into banditry, have decimated the population. I believe I have mentioned suicides, more and more frequent with the years. Perhaps my old age and fearfulness deceive me, but I suspect that the human species — the unique species — is about to be extinguished, but the Library will endure: illuminated, solitary, infinite, perfectly motionless, equipped with precious volumes, useless, incorruptible, secret.

I have just written the word “infinite”. I have not interpolated this adjective out of rhetorical habit; I say that it is not illogical to think that the world is infinite. Those who judge it to be limited postulate that in remote places the corridors and stairways and hexagons can conceivably come to an end — which is absurd. Those who imagine it to be without limit forget that the possible number of books does have such a limit. I venture to suggest this solution to the ancient problem: The Library is unlimited and cyclical. If an eternal traveler were to cross it in any direction, after centuries he would see that the same volumes were repeated in the same disorder (which, thus repeated, would be an order: the Order). My solitude is gladdened by this elegant hope.